#PorTodosNós

Santa Maria tem 60 mil pessoas impactadas pelo salário de trabalhadores do comércio

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data-filename="retriever" style="width: 100%;"> data-filename="retriever" style="width: 100%;">Foto: Renan Mattos (Diário)

É nas piores crises que a gente descobre com quem pode, realmente, contar. Nesses dias difíceis de pandemia pelo coronavírus, essa premissa ganha ainda mais força. Todos somos atingidos pelo medo provocado pela doença e também pelo temor de ficar sem renda, sem emprego ou sem o empreendimento aberto a duras penas. Mas nesse cenário árido, de grande preocupação, brotam inúmeros exemplos de esperança e de união, que fazem muita gente e muitos negócios terem mais força para enfrentarem essa crise que ainda não tem data para acabar. Se, de um lado, existe a necessidade real de ainda manter o distanciamento social e regras de higiene para tentar frear o avanço da Covid-19, de outro, há um grande mutirão para tentar manter a engrenagem da economia girando, para preservar empregos e empresas, e para garantir renda para trabalhadores autônomos e informais. Economistas e entidades afirmam que uma das saídas é buscar forças e fomentar o comércio local. Por isso, o Diário lança neste fim de semana a campanha #PorTodosNós, que tem apoio institucional de diversas entidades empresariais e de trabalhadores da cidade.

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O objetivo da campanha é mostrar como os consumidores e as empresas podem ajudar a economia santa-mariense a enfrentar a crise atual, em uma união de esforços que leve em consideração e respeite todos os cuidados de higiene e isolamento recomendados por especialistas. Isso pode ser feito de diversas maneiras, a começar com o cidadão de Santa Maria preferindo comprar em uma loja local do que fazer uma compra pela internet, em que mandaria o dinheiro e os empregos para fora da cidade. Até porque essa mesma loja daqui, além de manter os funcionários, acaba contratando outros profissionais ou empresas daqui para fazer um conserto, por exemplo.

Nessa engrenagem, o funcionário da loja e o operário usam o dinheiro que receberam para comprar o lanche de um trabalhador informal ou para comprar um calçado ou roupa no comércio local. E, muitas vezes, é essa loja de calçados que tem feito doações de alimentos para famílias pobres de Santa Maria que estão sofrendo com os efeitos da crise gerada pelo coronavírus. Ou seja, com união e cooperação, todos nós saímos ganhando.

- O maior desafio que temos hoje é saber trabalhar de forma cooperada. Hoje, temos 14 mil empresas que pagam ISS, que dá um faturamento de R$ 5 milhões por mês. Isso mostra a representatividade que temos nesse setor. De que forma posso ajudar? Claro que podemos ajudar a fazer as máscaras e tudo mais, mas tem uma questão importante aqui, que é manter o consumo e a renda circulando - comenta o secretário de Finanças de Santa Maria e professor de Economia da Universidade Francisca (UFN), Matheus Frozza.

Ele diz que há formas de ajudar a economia local.

- Como faço isso? No restaurante, com delivery, com voucher (vale), com estratégia direcionada. Só que tem de chegar também a outros setores. Eu não tenho dúvida de que vai levar um tempo. Só que a gente precisa dar o primeiro passo. Preciso comprar no bar da esquina, chamar o eletricista, o cara do gesso - afirma.

O secretário diz que, na medida do possível, as pessoas devem manter o consumo em Santa Maria e ter um olhar colaborativo e de solidariedade.

- No colégio, eu paguei a mensalidade integral da minha filha. E, mesmo ela não tendo o bar da escola este mês, eu paguei os R$ 80 que ela gastaria de lanche. Isso é trabalhar de forma cooperada. Antecipei um consumo que ela vai ter no bar, pois vou ajudar o casal dono do bar para que os dois mantenham a funcionária, que vai consumir na região onde mora - declara.

Frozza afirma que esse tipo de atitude deve partir, principalmente, de quem tem salário no final do mês e certa estabilidade:

- Se tenho condições, eu posso fazer pelo próximo. Se puder tomar esse tipo de atitude, vou ajudar. Se não puder pagar tudo, negocie, mas que a última medida seja cancelar contratos. Quem não souber cooperar não vai resistir. Demitir também deve ser a última opção dos empresários. Tem empresas que estão fazendo doações generosas, vamos ajudar essas empresas e comprar dessas empresas. Vamos valorizar quem está ajudando nessa crise.

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CONSUMO CONSCIENTE

style="width: 100%;" data-filename="retriever">Foto: Gabriel Haesbaert (Diário)

O professor de Economia da Ulbra, Gilfredo Castagna, lembra que, desde o pós-2ª Guerra Mundial, houve campanhas sobre consumo de produtos locais e naturais nos EUA e na Europa e diz que, até hoje, é muito forte a cultura de compras em feiras nas pequenas cidades da Itália.

- Há uma tendência mundial de aproximar a cidade do sustento do seu entorno, até porque o pequeno produtor fica mais exposto à crise - diz.

Castagna defende que as pessoas devem exercer um consumo estando conscientes do impacto social que ele provoca. Nesse aspecto, diz que há todo um esforço para o consumo no local onde se vive, até mesmo de produtos fabricados fora daquela cidade.

- Se eu comprar em Santa Maria e não pela internet, de uma empresa de São Paulo, alguma coisa eu agrego para Santa Maria. Se o empresário daqui compra a R$ 100 e vende a R$ 150, esses R$ 50, em tese, ficam em Santa Maria. Esse valor agregado é o pano de circulação local - diz ele, lembrando que esse valor ajuda a pagar aluguéis e manter empregos e impostos na cidade, que serão usados para asfaltar a rua ou preservar o posto de saúde.

O economista diz ter adotado uma teoria própria para decidir onde vai comprar. Ele comenta que, para um produto que custa R$ 100 na internet, se achar o mesmo item por até R$ 116 em Santa Maria, prefere comprar na cidade.

- Eu acho razoável que até 15% a 16% seja considerado como um custo local. É correto e aceitável que seja agregado esse custo porque o empresário está mantendo uma estrutura e empregos na cidade. Eu aceito pagar os 16% porque, em tese, vai circular aqui. Por outro lado, para uma empresa que vende pela internet e mantém um galpão fechado lá em São Paulo, só 16% é um desconto muito pequeno. Eu gosto de viver em Santa Maria e isso tem um custo. Acho que até 16% é razoável - diz.

Castagna afirma que isso não impede a concorrência comercial e reforça que é fundamental fazer pesquisas de preço.

- Precisei comprar agora uma câmera para as aulas na internet e liguei para lojas de informática de Santa Maria. Na primeira, pediram R$ 150. Acabei achando uma câmera por R$ 70 - afirma Castagna.

style="width: 100%;" data-filename="retriever">Rodrigo Nêne (Diário)

O secretário de Finanças de Santa Maria, Matheus Frozza, tem um pensamento semelhante.

- Quem tiver condições de, nesse momento, pagar 10% a 15% mais caro, compre aqui e não de fora, para girar o dinheiro aqui. Temos uma crise de saúde e também uma estiagem muito grande na região. Então, se for R$ 10 ou R$ 15 mais caro, negocie e procure valorizar o produto local, pois esse dinheiro vai gerar renda, emprego e mais consumo local. É importante fazer girar esse consumo. A abertura do comércio é gradual. Então, se eu puder encomendar o bolo, o pão, se puder manter o bar da escola, é importante. Porque a loja vai mudar essa relação, a loja precisa estar perto do cliente, precisa até fazer esse acolhimento - explica Frozza.

No Brasil, o Sebrae também tem a campanha Compre do Pequeno Negócio, para incentivar a economia local.

- Há uma tendência atual chamada locavorismo, que é comprar localmente ou regionalmente. Isso é forte, principalmente, no setor de restaurantes. Agora, mais do que nunca, é preciso consumir localmente para manter os empregos e as empresas aqui. Não é xenofobia, mas ajudar quem está perto da gente - diz o técnico gestor de projetos do Sebrae Santa Maria, Carlos Henrique Karsten.

Em Santa Maria, há cerca de 15 anos, existe uma lei que obriga os supermercados a colocar uma placa que identifique o "Produto Fabricado em Santa Maria" nas gôndolas, para incentivar o consumidor a fortalecer a indústria e os produtores rurais da cidade.

A prefeitura lançou um guia com 26 agricultores que fornecem alimentos por tele-entrega, além de apoiar locais.

REDE DE SOLIDARIEDADE

style="width: 100%;" data-filename="retriever">Foto: Gabriel Haesbaert (Diário)

Diante da crise, em todo o Brasil e, também, em Santa Maria, muitas empresas e profissionais liberais adotaram a estratégia de vender vouchers (vales) para ter uma renda garantida durante o período de paralisação das atividades. E o cliente pode usar o vale quando as atividades voltarem ao normal. O salão de beleza Carina Capelli, na Avenida Presidente Vargas, foi um dos que aderiram a essa iniciativa, apoiada por uma marca de cosméticos. Em menos de uma semana, pelo menos 17 clientes compraram vouchers de R$ 50 e só vão usar os serviços quando o salão reabrir.

- Temos 16 colaboradoras. Como muitos serviços eram parcelados pelas clientes em 30 e 60 dias, elas ainda terão uma boa renda nesses primeiros 30 dias. Mas, com a iniciativa dos vouchers, elas ficaram mais tranquilas de que terão alguma renda se os serviços ficarem parados mais tempo e também de que as clientes vão voltar - diz Carina Antonello Moro, sócia do salão.

A bioquímica Aline Guasso Scaramussa, 34 anos, é uma das clientes que decidiram comprar um vale para usar depois. Ela frequenta o salão há 7 anos.

- Resolvi ajudar porque sei que elas estão precisando de uma renda agora, que o salão está fechado - afirma Aline.

ASSISTA AO VÍDEO


    O que dizem as entidades

    • Péricles da Costa, OAB-SM - A prosperidade, bem-estar, segurança, de todos os santa-marienses a partir de agora estará como nunca antes nas mãos deles próprios, e o comércio, nossa vocação histórica, sustentou nossa evolução e alicerça o sustento de um sem número 
    • Eduardo Stangherlin, Sindigêneros - É muito positiva essa campanha Por Todos Nós, porque as pessoas que são daqui investem aqui. Também vai manter os empregos na cidade. Vai ajudar muito Santa Maria, se o pessoal consumir aqui, comprar um vinho, por exemplo, sem sair para Rivera ou outros locais. Até porque haverá dificuldade em relação à seca, pois os produtores da região vão vir gastar menos em Santa Maria. Se puderem comprar das empresas de daqui, será muito importante
    • Luiz Fernando Pacheco, Cacism - Vejo essa campanha como fundamental para a retomada da economia em nossa cidade. Comércio aberto ou fechado é indiferente se não tivermos público consumidor. Adquirindo produtos de Santa Maria, vamos ajudar na sobrevivência das empresas e a manter os milhares de empregos que aqui são gerados. Pacheco: A reabertura e a adoção de medidas de cuidados e segurança não são excludentes. Podem e devem ocorrer juntas. Mas para isso vamos precisar da conscientização de todos
    • Marta Najar, Sinprosm - Fortalecer a economia local gera emprego e renda. Pequenas compras podem fazer a diferença aos pequenos negócios. É importante comprar nos mercadinhos dos bairros, no armazém da esquina, de pequenos empreendedores
    • Rogério Reis, Sindicato dos Comerciários - Nesta pandemia, com lojas que estiveram fechadas, é importante a conscientização de toda a população, para que esqueça um pouco as compras pela internet e possa se voltar ao consumo do nosso comércio. Para que eles possam ter mais fôlego para pagar seus funcionários, compromissos e tributos. Precisamos ter a consciência de consumir no comércio local, de marcas locais. É momento de solidariedade e de ajudar o consumo de empresas locais
    • Paulo Magnago, Apusm - Em tempos de crise, cabe a cada cidade avaliar melhor os impactos econômicos em função da cultura local. Em Santa Maria, temos o comércio muito forte, empresários locais, de micro e pequenos empreendimentos. Estes são os que já estão sentindo os reflexos da recessão. Ainda que consideremos que todas as marcas que invistam em Santa Maria são importantes, valorizar os produtos e empreendedores locais, em função do tamanho dos negócios, linhas de crédito, deve ser a atitude mais responsável aos santa-marienses
    • Marli Rigo, CDL - Vamos recomeçar juntos. Compre e valorize o comércio local
    • Edmilson Gabardo, ATU - Precisamos ouvir os profissionais da saúde! Usar máscara, principalmente no transporte público, e agir com responsabilidade. Os empresários vão abrir seus estabelecimentos para cumprir sua função social, e os consumidores devem ter a responsabilidade de seguir as regras estabelecidas. Precisamos dividir os riscos da pandemia entre toda a sociedade
    • Rinaldo Righi, Sindicontábil - É muito importante essa campanha de apoiar o comércio local, porque geralmente as empresas locais são de pequeno porte. Isso ajudará a preservar os empregos da cidade. Nada contra as empresas de fora, mas geralmente as grandes redes têm uma condição financeira melhor para suportar esse momento
    • Felipe Londero, Ajesm - Temos de fomentar o comércio local porque, ele crescendo, vai abrir mais comércio e mais indústrias. Com isso, vamos gerando mais empregos e pagando tributos no município, o que vai beneficiar toda a população com mais serviços públicos
    • Odil Gomes de Castro, Secovi - A gente reclama, com razão, da alta carga tributária, mas se pagamos impostos, que se consuma aqui para que os impostos fiquem aqui, pois isso vai nos beneficiar com investimentos até em saúde. É fundamental fortalecer o comércio local, particularmente neste momento, para manter os empregos e os investimentos aqui
    • João Provensi, Sindicato de hotéis, restaurantes, bares e similares - Santa-mariense de nascimento e santa-marienses que nem eu, que adotamos Santa Maria como cidade para viver e sobreviver, vamos consumir nos nossos comércios, de Santa Maria, na lancheria do bairro, na lancheria da nossa cidade, de quem produz aqui. E quem sabe fazer como antigamente, em que a mercadoria era moeda de troca, em que troca um produto com o do vizinho. Vamos prestigiar as empresas de comércio e indústrias de Santa Maria

    #portodosnós
    A campanha é uma iniciativa do Diário em parceria com a prefeitura de Santa Maria e conta com apoio de: AHturr , Ajesm, Apusm, Associação Rural de Santa Maria, ATU, Cacism, CDL, Espaço Contábil, OAB, Secovi, Secsm, SHRBS, Sindigêneros, Sindilojas, Sinduscon, Simprosm


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